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por Wolfgang Soares – atleta elite e squad WTR

A Copa do Mundo foi realizada no São José Bike Club, pista que vi nascer e participei dos testes de cada obstáculo quando foram sendo construídos desde 2015 para receber o Campeonato Brasileiro de XCO naquele mesmo ano.

Um fim de semana histórico para o MTB e para o Brasil!

Foram longos 17 anos de espera para sediarmos novamente uma etapa da Copa do Mundo de MTB no Brasil e, enfim, o público brasileiro conseguiu acompanhar de perto esse esporte pelo qual somos apaixonados.

Foram dias espetaculares na região serrana do RJ com uma presença expressiva de público.

Como tem sido a sua rotina nesse ano de 2022?

Muito intensa, desafiadora e empolgante, na medida que cresço na vida e no esporte as responsabilidades aumentam. Tô na minha melhor versão e forma física de todos os tempos, parece que a maturidade chegou, sabendo aproveitar todas as experiências adquiridas nos anos e temporadas que passaram, somado a uma ótima equipe multidisciplinar, investimento de patrocinadores e ótimos equipamentos, a performance é a melhor que já tive em toda minha carreira nestes 16 anos competindo e isso me deixa feliz e motivado para continuar buscando melhores resultados, melhores marcas e batendo meus recordes pessoais também (compito muito contra eu mesmo). 

Além disso, na minha rotina de treinos, viagens, competição e tudo que envolve a minha preparação, sou pai da Vava, marido da Carol, estudante de Educação Física e tenho a assessoria esportiva Wolf Treinamento Especializado junto com um pequeno projeto social. Os dias são curtos e tudo cronometrado, por um tempo da minha vida e nesse exato momento gosto de viver nessa intensidade e sei que isso é passageiro, por isso quero aproveitar tudo intensamente, acompanhando de perto o crescimento e desenvolvimento da minha filha, sendo um pai participativo na vida dela, escola e etc, e levando ela para a minha rotina de trabalho também, acompanhando meus treinos, viagens, competições e eventos da WTE. Acredito muito na experiência das vivências e ela vendo de perto as vitórias, derrotas, alegrias, frustrações, sacrifícios, abdicações, recompensas e a forma como lido com tudo isso e de alguma forma também educar ela com exemplos que ela mesma irá observar nessa jornada.

Qual a sua inspiração para sempre buscar novos desafios e evoluir no esporte?

É uma chama que tem dentro de mim, para ser cada vez mais rápido, conquistar novas metas, estabelecer novos recordes e marcas, ser motivo de orgulho e inspiração para toda a minha família, para as pessoas que me acompanham e para os jovens que estão chegando no MTB. Me inspiro em saber e pensar que de alguma forma a minha trajetória pode ajudar, contribuir, possibilitar, impulsionar, inspirar e motivar principalmente outros jovens a fazer do Mountain Bike o seu estilo de vida.

2022 já ficou na história. Como foi ver a Copa do Mundo de volta ao Brasil, principalmente para Petrópolis, a sua casa?

Quando soube da vinda da Copa do Mundo para a Petrópolis, aquela tal chama aumentou ainda mais, algo completamente empolgante imaginar que a minha cidade iria receber um dos maiores eventos esportivos do mundo e que eu teria as chances de participar desse momento marcante e histórico para o MTB brasileiro e mundial, sendo assim, de alguma forma meu nome estaria na história também.

Ver toda a comunidade do MTB com os olhos voltados para Petrópolis, vendo as pessoas da cidade sabendo do evento e vendo meu esporte sendo ainda mais reconhecido, imaginar minha família me assistindo na Copa do Mundo…Tudo isso foi me empolgando e me emocionando!

Como foi a preparação para esse momento?

Foi um processo árduo desde um calendário de competições extenso pela busca de pontos, até a preparação para elevar a performance e poder competir em alto nível. Quando conquistamos a vaga foi impossível conter as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

Com a vaga garantida, ainda tínhamos mais um tempo para ajustar os detalhes e elevar mais a performance, assim como eu, todas as pessoas que participaram da minha preparação não mediram esforços e trabalhamos muito para isso e com as mangas arregaçadas.

Sofrer de dedicação em cima da bike é algo normal na minha rotina, continuamos nessa dedicação, porém, atacamos outros pontos onde tínhamos grandes margens de melhora e foi realmente desgaste e sacrificante, acho que só a Copa do Mundo em Petrópolis mesmo para fazer essa chave virar dentro de mim e tolerar a dor do sacrifício e reencontrar aquela motivação a mais e que faz a diferença para no final das contas estarmos andando 20 segundos mais rápido por volta. 

O nível subindo a meta não era mais apenas participar, mas sim, completar a prova, tendo em vista que aproximadamente 40% dos atletas que largaram na WC (World Cup – Copa do Mundo) são cortados pela regra dos 80% (quando o atleta que está atrás, está com 80% do tempo do líder e para não tomar uma volta e atrapalhar a dinâmica da prova, ele é retirado da competição).

Chegou o grande dia, qual era a sensação de competir em um evento tão grande, ao lado de grandes atletas e com a família e amigos por perto?

A vontade de competir, o nível de concentração e energia era muito grande, eu estava pronto e era só descarregar tudo o que eu tinha nas pernas.

O que eu mais mentalizava era completar sem ser cortado e meu maior obstáculo seria o início da prova, por se tratar dos melhores do mundo e eu um aspirante ali no meio, eu tava “ferrado” pois em comparação a eles eu quase não tinha pontos no ranking mundial, a título de comparação, o líder do ranking tinha quase dois mil pontos, eu devia ser o 500 e tal no ranking com menos de 50 pontos.

Ou seja, fui o último a alinhar na prova, com oito atletas por fila e eu era o número 115, imaginem o mundo de atletas que tinha na minha frente e não eram qualquer atletas, eram os 100 melhores do mundo. Qualquer piscada de olhos e tomada de decisão errada me custaria segundos preciosos.

Ainda no alinhamento, escolhi o lado direito pois a primeira curva era para esquerda e eu faria ela mais aberta e com a bike mais “solta” e mais embalada consequentemente. Poucos instantes para largar, já no silêncio da expectativa da luz verde de largada, algo me fez mudar os planos, olhei para o lado e haviam poucos atletas, olhei para traz e não tinha ninguém,  peguei a bicicleta e fui pro lado oposto, lá pro lado esquerdo e sem muita explicação. Algo me falou e eu simplesmente mudei a minha posição de largada. Poucos segundos depois de eu me posicionar foi dada a largada e logo nas primeiras pedaladas houve um acidente exatamente no lado direito e do meio do pelotão para trás, onde eu estaria, não acreditei naquilo quando vi e consequentemente ganhei muitas posições.

As duas primeiras voltas pareciam as últimas da minha vida, onde dava eu acelerava tudo e ultrapassava o máximo de atletas que eu pudesse.

No meio da prova e o ritmo foi caindo como o esperado, foi quando tomei consciência do que eu estava fazendo e comecei a pensar um pouco, pois até ali eu estava apenas no instinto. Cerca de 40-50 minutos de prova eu estava brigando no top 50 e muito perto do top 40 (algo que eu não imaginava ser possível), quando me deparo, estava andando com caras que via na televisão, campeão italiano e por aí vai. O ritmo ia pesando e cada vez mais ficando difícil manter o padrão de esforço, mas a vontade era maior e eu não largava o osso, quando abri a última volta e não tinha sido cortado a sensação foi que a competição acabou ali para mim, a missão foi cumprida mesmo faltando ainda uma volta, toda dedicação, planejamento, abdicações, sacrifícios, investimentos, apoio da família e amigos vieram na minha cabeça tudo como um flash, e essas pessoas estavam ali torcendo pelo Brasil e por mim, a exaustão era grande e fui conduzindo a bike da forma que dava e cumprimentando um por um na beira da pista até concluir a prova.

Cruzei a linha de chegada chorando de emoção, de gratidão por estar vivendo tudo aquilo ali e exatamente como tudo aconteceu.

Ah, o resultado, terminei em P60 e entre os brasileiro em 8⁰. Podemos dizer que fomos o número 60 do mundo naquele dia. E isso é muito grandioso para mim!

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Fez diferença conhecer o local tão bem?

Com certeza. Acredito que não me sentiria mais à vontade em nenhum outro lugar e isso fez a diferença para eu ganhar confiança e ir para cima dos caras! Talvez se fosse em outro lugar e com as mesmas condições eu ficaria intimidado e não daria tudo de mim. E por isso digo que voltei a sonhar, o que essa WC proporcionou para mim está sendo a chave, motivação e confiança para objetivos ainda maiores em minha carreira. 

Quais são os próximos objetivos para o restante da sua temporada?

Nesse exato momento que respondo a entrevista para a WTR, tô voando para Catamarca na Argentina para competir o campeonato Panamericano de MTB, essa será a minha terceira participação em um Pan Americano e é um dos meus objetivos da temporada essa prova, principalmente por ser um campeonato continental e distribuir muitos pontos no ranking  mundial. Mais pontos no ranking mundial a posição de alinhamento vai melhorando e o direito à vaga de competir outros eventos como Copas do Mundo e Mundiais.

Os outros objetivos são as provas principais do Brasil e que pontuam no ranking, campeonato nacional e a possibilidade de competir o Mundial na França e a última etapa da copa do mundo na Itália entre final de agosto e início de setembro.

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